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ZeroDay #3: Os Sinais Ocultos do Seu Piloto Automático: Você está no Controle?

E aí, Tribo! Chegamos à ZeroDay #003!
Nas últimas semanas, exploramos como podemos pegar o volante da nossa vida com a pergunta "O que EU posso fazer agora?" (Semana 1) e como podemos direcionar nossa jornada usando o poder da intenção clara e sentida (Semana 2). Já temos o volante e um destino no GPS mental... mas quem está realmente dirigindo na maior parte do tempo?
A verdade é que, muitas vezes, mesmo com as melhores intenções, somos sequestrados pelo nosso velho conhecido: o piloto automático. Aquele conjunto de hábitos, reações e pensamentos inconscientes que assume o comando sem pedir licença, repetindo os mesmos padrões e nos impedindo de usar nossa agência e intenção de forma plena.
Para realmente "hackear" nossa realidade, precisamos primeiro saber quando não estamos no controle consciente. Precisamos aprender a ler os "Sinais do Sistema".
Essa semana, vamos olhar exatamente nisso: como identificar os alertas sutis (e nem tão sutis assim) de que estamos operando no modo automático. Afinal, você não pode desativar um programa se nem sabe que ele está rodando. Prepare-se para ligar o modo de observação a…gora!
/* ZeroDay, 0-Day ou Day-0, na comunidade de tecnologia, é uma vulnerabilidade de segurança em software que ainda não foi descoberta pelos desenvolvedores, mas pode já estar sendo explorada por hackers. O nome indica que os desenvolvedores têm "zero dias" para corrigir o problema. Estas falhas são temidas porque ainda não existem correções disponíveis, quando muito alguns “band-aids” (workarounds), deixando os sistemas completamente vulneráveis a ataques.
HISTÓRIA PRINCIPAL: O Buraco Negro do Scroll Infinito e Acordar com Dor no Pescoço (Estimativa de Leitura: 5-7 minutos)
Vou confessar uma coisa que, suspeito fortemente, muitos aqui vão se identificar. Por muito tempo, minhas noites de dia de semana seguiam um roteiro quase idêntico e inconsciente. Chegava em casa cansado, comia algo rápido e... pronto. O sofá ou a cama me abduziam. Pegava o celular "só pra dar uma olhadinha rápida" e, quando via, aqueles 15 minutos tinham virado uma, duas horas num piscar de olhos. Um buraco negro de scroll infinito no Instagram, TikTok, notícias aleatórias, vídeos que eu nem lembrava depois… fora a esofagite me corroendo por dentro por ter comido e deitado em seguida.
/* Só fui descobrir anos depois que esse negócio de comer e deitar é um azeite para um refluxo estomacal silencioso que vai pouco a pouco, corroendo o esôfago. Só mais um ponto: hoje, cientificamente recomenda-se deitar de 4 a 6 horas após a última refeição sólida.
Eu sabia que queria usar esse tempo pra outra coisa (ler, conversar, terminar aquele projeto pessoal – minha intenção até existia em algum lugar). Eu sabia que podia agir diferente (Semana 1 estava lá, esquecida). Mas, noite após noite, o piloto automático vencia. O gatilho era o cenário, o contexto. Trabalho → Casa = recompensa dopaminérgica fácil, e a ação era pegar o celular. O resultado? Além do tempo perdido, uma sensação esquisita de vazio, de anestesia mental, e frequentemente uma dor física real – no pescoço, nos olhos, na coluna, principalmente depois de acordar no dia seguinte.
/* Aqui vai um hack: tudo que é fácil repetir, você vai repetir. Se quer parar de repetir padrões ruins, mude o cenário, dificulte para que o “piloto automático” fique confuso, e então você pode reprogramar com controle. Por exemplo, quando eu resolvi acordar as 5:00 da manhã, eu deixava meu despertador a 3 passos da cama, deixava a roupa pronta ao lado, tudo para facilitar o que eu queria repetir. Ao mesmo tempo, quando eu quis me livrar de um jogo de celular que me gerava dopamina grátis fora de hora, primeiro escondi dentro de uma pasta, e por fim, apaguei ele. Dificultei a reincidência.
O "despertar" desse padrão não foi um insight glorioso. Foi literal e dolorido. Numa dessas noites, depois de um mergulho profundo no feed alheio, levantei do sofá e senti uma fisgada tão forte no pescoço que quase não consegui virar a cabeça. Fui ao banheiro, me olhei no espelho e vi meu rosto com aquela expressão meio vaga, olhos cansados, postura curvada. Naquele instante, a dor física e a imagem no espelho funcionaram como um alerta de sistema gritando: "ALÔ! VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI! TEM HORAS QUE VOCÊ SUMIU DA SUA PRÓPRIA VIDA!"
Aquela dor no pescoço, aquela sensação de "tempo evaporado", aquele vazio pós-scroll... percebi que eram sinais. Sinais claros do meu sistema (corpo e mente) me dizendo que eu estava operando no piloto automático, bastante desconectado das minhas intenções e da minha presença. Eu não estava escolhendo passar aquelas horas daquele jeito; eu estava sendo levado por um hábito recompensador de curto prazo, mas que me deixava zerado de energia real e satisfação de longo prazo.
Identificar esse padrão e, principalmente, reconhecer os sinais que o precediam ou acompanhavam (chegar em casa tarde da noite + cansaço relativo → sensação de torpor durante, a dor física e o vazio depois) foi o primeiro passo real para começar a mudar. Não adiantava só ter a intenção de "ler ou estudar mais à noite" se eu não reconhecesse o momento exato em que o piloto automático do scroll estava prestes a assumir o controle. E isso é muito particular… cada um tem seus gatilhos… ao longo do tempo, percebi que eles tem uma coisa em comum: a moradia. Todos os gatilhos moram em algum lugar. Esse lugar pode ser: a casa que você mora hoje, o local de trabalho, o bar, o restaurante, o aeroporto… agora que falei, começa a perceber: quais gatilhos cada local que você vai, ativam algum “piloto automático” nocivo? Ah… tem os positivos também tá, não tem só coisa ruim nos gatilhos.
A consciência do padrão, junto dos sinais dados pelo corpo e pela mente, é a chave que abre a porta para a escolha, ou, retomada do controle.
E só para acrescentar, existe um livro muito bom que fala sobre o “piloto automático": livro "Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar" do Daniel Kahneman. Ali, o Daniel apresenta cientificamente como a mente humana opera através de dois sistemas distintos: o sistema rápido, intuitivo e emocional, e o sistema lento, deliberativo e lógico. Baseado em décadas de pesquisa, Kahneman demonstra como o “sistema rápido” frequentemente domina nossas decisões quando deveria ser o “sistema lento” o preferível, por ser um sistema consciente, lógico, mas que também gasta mais energia. Por isso o nosso cérebro prefere o primeiro, que funciona mais ou menos como a memória cache dos processadores dos computadores, que gasta menos energia, menos processamento e já tem a informação ali, pronta, já processada.
E então, consegue perceber quais são os "sinais" que o teu sistema te manda quando o piloto automático te sequestra? Ou os gatilhos que ativam em você aquilo que você não quer?
CÓDIGO DA SEMANA(‘semana 3’)
Depois de entender que podemos agir e intencionar, precisamos aprender a VIGIAR o sistema:
Código #003: O Sistema Grita (em Silêncio) – Escute os Sinais do Piloto Automático.
Explicação Breve: A gente passa boa parte da vida rodando no automático, repetindo programas instalados lá atrás (hábitos, crenças, reações sistêmicas). O problema é que, nesse modo, nossa capacidade de agir com intenção fica quase nula. A boa notícia? Nosso sistema (corpo, mente, emoções) está o tempo todo nos enviando sinais de quando estamos nesse modo: uma tensão muscular inexplicável, aquela emoção recorrente que surge "do nada", um pensamento repetitivo e limitante, ou até padrões externos que se repetem. Aprender a notar esses sinais é o primeiro passo crucial para retomar o controle. É como ouvir o "beep" de alerta do sistema antes que ele trave. Você não pode mudar um programa que nem sabe que está rodando. A consciência é o dedo no botão 'ESC' do piloto automático.
DEBUG DAILY (Exercício da Semana 3)
Vamos treinar o "radar" para pegar o piloto automático no flagra:
Exercício: Radar de Presença (Check-in 3x ao dia).
Configure 3 alarmes discretos no seu celular para horários aleatórios durante o dia (ex: meio da manhã, meio da tarde, início da noite).
Quando o alarme tocar: PARE o que estiver fazendo por apenas 15-30 segundos. Não é pra mudar nada, só observar.
Pergunte-se internamente:
"Onde estou?" (Consciência do lugar físico)
"O que estou fazendo exatamente neste segundo?" (Consciência da ação)
"O que estou sentindo no corpo agora?" (Alguma tensão, relaxamento?)
"Qual emoção/pensamento está passando por mim?" (Nomeie brevemente)
"Estou presente nesta ação ou minha mente está vagando/no automático?" (Resposta honesta, sem julgamento).
Faça um rápido scan corporal (imagine um scanner descendo da sua cabeça aos pés e depois voltando, percebendo qualquer dor, cócegas, som, cheiro, sabor… sem julgar, só perceba).
Respire fundo uma vez e retome sua atividade.
O Objetivo: Criar micro-momentos de auto-observação ao longo do dia. É um treino simples para fortalecer o "músculo da presença" e começar a notar, com mais frequência e rapidez, quando estamos operando no automático versus quando estamos conscientemente presentes. É acender a luz no painel de controle interno. Vamos usar mais essa prática lá na frente.
LOGS DE TRANSFORMAÇÃO (Prompt da Semana 3)
Semanas 1 e 2 foram sobre ação e intenção. Agora, a auto-observação:
Convite: Como você geralmente percebe que "desconectou" e entrou no piloto automático? Qual é o principal "sinal" que o seu sistema te envia (uma sensação física, uma emoção específica, um padrão de pensamento, um comportamento repetitivo como o meu do scroll)? Ou qual padrão automático você mais gostaria de conseguir identificar "no flagra"?
Responda diretamente a este e-mail. Compartilhar nossos "sinais" pode ajudar toda a Tribo a ficar mais atenta aos seus próprios alertas!
NEXT LEVEL (Preview da Semana 4)
Ok, você aprendeu a ver os 'sinais' de que o piloto automático assumiu (Semana 3). Percebeu a tensão no ombro, o scroll infinito, a resposta atravessada que saiu sem pensar... E agora? Só notar adianta?
Preview Semana 4: "O Primeiro Exploit: Sua Primeira Prática Simples de Intenção Consciente." No mundo da segurança digital, um 'exploit' é um código que se aproveita de uma vulnerabilidade para executar uma ação específica no sistema. Na nossa jornada aqui, nosso primeiro 'exploit' ético e pessoal será usar um princípio fundamental da nossa própria consciência – o poder do foco direcionado e do sentimento – para criar pequenas (ou nem tão pequenas) mudanças positivas na nossa rotina. Vou te ensinar uma técnica básica e concreta, o seu primeiro exploit consciente, para aplicar a intenção de forma prática e começar a sentir na pele como isso pode facilitar as coisas ou abrir novos caminhos.
Semana que vem, dia 23 de Abril de 2025, você aprende a rodar seu primeiro 'payload' de intenção. 😉 Prepare o teclado mental!
ENCERRAMENTO(‘semana que vem tem mais’)
Que esta terceira semana te traga mais consciência sobre seus próprios padrões e os sinais do seu sistema. A auto-observação sem julgamento é o começo de toda transformação real.
Um abraço e até a próxima semana,
Juliano